sábado, 6 de novembro de 2010

PROFESSORANDAS INESquecíveis


Maria Inês de Brito Ataide

14/10/2010

Queridas alunas.

Não recorri a nenhum teórico, nenhum filósofo e nem poeta para lhes desejar êxitos na profissão que em breve assumirão.

O que quero hoje, véspera do dia 15 de outubro, é fazer uma reflexão sobre as horas que passamos convivendo nesta relação “professor-aluno” tão debatida no contexto escolar. Sei que não foram momentos totalmente prazerosos em função de atitudes exigidas pelo rigor acadêmico. No entanto, quero que saibam do meu apreço por vocês; afinal, convivemos por dois semestres, com cinco disciplinas (Identidade Docente; Avaliação Institucional; Fund. e Met. do Ensino de História; Pedagogia Preventiva e Estágio Supervisionado). Tudo isso é suficiente para conhecê-las, tendo em vista o número reduzido de alunas, a minha formação e a minha história de longa experiência em salas de aula. Conheço a competência, a responsabilidade e o interesse de cada uma, e também o que pensam, o que falam, o que querem, o que sonham e, principalmente, o que as angustiam neste mundo de tantas incertezas. Uma certeza posso garantir-lhes: sairão, desses dois semestres, diferentes de quando entraram, e sabem por quê? Porque trabalhamos com amor, sinceridade, dedicação. Os conteúdos vistos, que para muitos não “passam de teoria”, irão dar suporte à educação dos seus alunos, dos seus filhos e no conviver em sociedade.

O meu desejo é que todas saiam dessa instituição fortalecidas no senso crítico que muito as caracteriza e levem o melhor possível de cada professor que passou por vocês. Coloquem na práxis pedagógica o amor, a competência, a tolerância, a humildade, o diálogo, a justiça, a cumplicidade, a responsabilidade, a amizade, a alteridade, a autonomia e, sobretudo, a resiliência.

Meu último desejo: sejam muitíssimo felizes!

Um grande beijo,

Professora Inês

AS CONTRIBUIÇÕES DO OLHAR SISTÊMICO NA CONCEPÇÃO DE FAMÍLIA E NA IMPORTÂNCIA DO PAPEL DOS PAIS PARA A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA.

MARIA INÊS DE BRITO ATAIDE

Quando se fala em família, automaticamente lembra-se de pai, mãe e filhos. Abordar a sua constituição na sociedade contemporânea, implica conceber no interior desta um amplo processo de intervenção produzido pelo outro social e cujos efeitos parecem remeter a um esvaziamento da função simbólica de transmissão a ser realizada por esta instituição. O que se percebe atualmente é que as mulheres estão cada vez mais conquistando sua independência e necessitando cada vez menos da presença masculina dentro de casa. Lacan (1993) se referia nesse sentido, a uma mudança de formas institucionais humanas considerando a existência de um declínio da função paterna devido esta se encontrar em um determinado processo de metamorfose das configurações dominantes que o mal-estar assume numa certa época da civilização já prevista por Freud. Assim, como desconsiderar o fato que a variabilidade histórica da estrutura familiar reflete a ação transformadora do discurso social concreto sobre os sistemas significantes e de ideais presentes no outro, sobretudo na criança? Cabe também destacar que a função formativa da família está sendo apropriada pelo Estado, pelo sistema escolar e meios de comunicação.

Independentemente dessa estrutura familiar o que é fundamental observar é que as pessoas que convivem diretamente com a criança exercem um papel decisivo em sua aprendizagem e contribuem também para a formação de sua personalidade. Neste aspecto, lembra Schettini (2005) que a configuração da personalidade resulta mais da exemplificação do que a explicação que a criança recebe de terceiros. Isto porque a criança ao nascer é um ser de total incompletude e depende exclusivamente dos adultos que estão em sua volta, em especial dos pais ou daqueles que fazem o papel destes.

O ponto de partida do caminho da educação escolar começa nas trilhas iniciadas no âmbito familiar. É fato conhecido que a inscrição da criança no discurso social a partir do século XVII enquanto categoria deu-se essencialmente com os discursos médico-científico e pedagógico, ambos constituídos pelas mudanças histórico-sociais decorrentes deste momento histórico. Nesse sentido, menos que um fato natural, a infância, tal como é compreendida hoje, é uma produção determinada pelas transformações dos sistemas político-econômico-social ocorridos ao longo dos últimos séculos levando-se em conta o desenvolvimento e avanço do capitalismo. Isto permite lembrar que a representação oficial da infância na sociedade moderna encontra-se marcada pelos valores burgueses de liberdade e felicidade. Para Volnovich (1993) é precisamente esse discurso da liberdade que marca a criança no século XX e XXI, dotando-a de direitos que lhe permitem gerenciar seu próprio destino. Isto posto, cabe refletir: Caso a criança não corresponda ao sistema de ideais presentes nesta sociedade marcada pelos valores capitalistas, que posição poderá ocupar no interior da família e na sociedade em geral?

Como se sabe, na família e na escola, as relações de afeto são o fundamento do processo educativo, possibilitando a orientação do fazer sem a tentação de inferir no ser. Portanto, a escola e a família precisam estar integradas para um melhor desenvolvimento da criança, onde ambas tenham o compromisso em lhe proporcionar um ambiente agradável e aconchegante.

Outros fatores como por exemplo, os fatores orgânicos, também são responsáveis pelo desenvolvimento de cada estágio da criança, porém, é fundamental destacar que a relação familiar contribui visivelmente no processo de aprendizagem da criança. Se sua identificação com os pais for sólida, dificilmente adotará valores contrários aos deles, mas, se for tênue, poderá receber influências de valores defendidos por grupos externos.

Com base nos pressupostos da Teoria Geral dos Sistemas, Lima (apud ANDOLFI, 1981), relaciona aspectos metodológicos dessa teoria, à concepção de família como um sistema em interação, como um fator essencial na análise das relações entre comportamento individual e grupo familiar e ainda destaca:

Como sistema interativo, a família é vista como um conjunto de unidades interligadas, de modo que qualquer mudança em uma provoca mudanças no sistema como um todo. Essa dinâmica do sistema evidencia a tendência da forças nele operantes a homeostase, ou seja, qualquer circunstância que venha a romper esse equilíbrio provocará novas mudanças nesse sistema a fim de restabelecê-lo. ( LIMA, p. 3, 2008).

Isto mostra que, como qualquer organismo dinâmico que sofre mudanças em uma das partes, pressupõe alterações em todo sistema. Porém, o que se quer destacar aqui é que tanto a educação quanto a família se modifica com o tempo influenciados pelas diferentes relações sociais e históricas. Assim, a família considerada como um sistema aberto, ou seja, em constante interação com outros sistemas, possui a capacidade de auto-regulação, resultando numa adaptação do sistema às novas demandas.

Segundo Viana (2000), a associação entre o contexto familiar e a aquisição da linguagem, está constituída, por três fatores fundamentais: o lingüístico, o cognitivo e o interacional. O fator interacional que de certo modo está atrelado aos outros dois enfoques, é o que mais inerfere, sobretudo no que se refere à fala, porque é a partir da interação com o outro que se começa a elaborar o texto verbal. Portanto, é nesse contexto que se desenvolve o processo de aquisição da linguagem. Esse fenômeno não se constitui apenas de uma mera informação específica, mas, evidencia a natureza das relações entre as pessoas que se comunicam. Neste caso, o modo como se fala é importante para o entendimento do conteúdo da mensagem que deve ser observado no sistema familiar para não correr riscos de comprometer os níveis de comunicação. Ainda nesse sentido, Vygotsky (1987) destaca que é nessa relação familiar que a palavra e o pensamento articulam-se e a criança passa a se interessar pelas atividades intelectuais envolvidas.

O desenvolvimento cognitivo tem início no período pré-verbal ou sensório-motor que vai até os três anos, em que permite uma maior autonomia e manuseio dos objetos e possibilita à criança uma maior exploração do espaço que a envolve e principalmente a evolução da função simbólica e da linguagem. Essa fase é importante porque contribui muito tanto para a formação da personalidade quanto para educação infantil que necessita de suporte para o desenvolvimento da coordenação motora. Com relação a esse aspecto é dever dos pais estimular a aprendizagem da criança contando coisas sobre o mundo que a cerca. Neste contexto, destaca Lima (apud MORENO, 1995):

Os pais devem sempre oferecer a criança materiais para serem manipulados, como livros de histórias, jogos educativos, objetos da casa, sendo muito importante a participação deles nos jogos. Que tenham boa disposição para responder e formular perguntas, utilizem palavras e enunciados que a criança conheça ou estar prestes a conhecer, cerquem-na de atividades rotineiras e de vez em quando lhe ofereçam alguma novidade.

Percebe-se desta maneira, que o desenvolvimento da criança ocorre a partir do momento em que ela participa da história e da cultura familiar, antes mesmo de sua inserção escolar. Pois, o cotidiano em que são apresentados os conceitos relativos aos objetos e fatos presentes na vida da criança e o científico são conceitos formados a partir aprendizagem apresentada pelo ensino. É nesse ponto que a zona do desenvolvimento proximal é considerada um componente importantíssimo, porque prepara a criança para ter mais autonomia, e se vê a aproximação do conhecimento real com o conhecimento potencial. E isso só acontece a partir da interação de duas ou mais pessoas.

Diante do exposto, constata-se que a família deve estar sempre acompanhando a criança para que ela se desenvolva tanto afetivamente quanto cognitivamente. Como conseqüência, a educação escolar integrada à educação familiar fará da criança um adulto autêntico, preparado para conviver numa sociedade que anseia por cidadãos que atendam os quatro pilares da educação: aprender a ser, aprender a aprender, aprender a fazer e aprender a conviver. Quer seja nas relações interpessoais, no âmbito familiar ou no contexto da escola, urge-se por uma desaprendizagem da desconfiança, da impaciência, do desrespeito, do medo, do julgamento antecipado e da incredulidade. Libertos destas ervas daninhas que usurpam o espaço do crescimento, a criança pode conquistar o respeito por si mesma e pelo outro. Desta forma é capaz de aprender qualquer coisa.


REFERÊNCIAS

LACAN, Jacques. Os complexos familiares na formação do indivíduo: ensaio de análise de uma função em psicologia. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1993.

LIMA, William de Freitas. Relações familiares e processos de aprendizagem. Texto complementar. Brasília, 2008.

SCHETTINI, Luiz filho. Desaprender para aprender na relação família-escola. Revista AEC: n. 134; janeiro/março, 2005.

VIANA, Marigia. O papel da família no processo de aquisição da linguagem. Revista Symposium: ano 4; dezembro, 2000.

VOLNOVICH, Jorge. A psicose na criança. Rio de Janeiro: Relume-Damará, 1993.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes,1997.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

PROJETO DE PESQUISA

PROJETO DE PESQUISA

MTPE – MARIA INÊS DE BRITO ATAIDE

1- TEMA: Idéia geral do assunto

2 - DELIMITAÇÃO DO TEMA: escolha sobre o que versará o trabalho

- Requer clareza a respeito do campo do conhecimento a que pertence o assunto;

- Deve determinar o lugar que ocupa no tempo e no espaço.

3 - JUSTIFICATIVA: Menciona-se a pretensão do trabalho e seu valor nos seguintes aspectos:

- RELEVÂNCIA CIENTÍFICA: O que essa pesquisa pode acrescentar à ciência?

- RELEVÂNCIA SOCIAL: Que benefício pode trazer à comunidade?

- INTERESSE: O que levou à escolha do tema?

- VIABILIDADE: Quais as possibilidades concretas desta pesquisa?

4 - PROBLEMA:

- Situá-lo no tempo e no espaço, localizando as fontes de origem;

- O problema deve ser formulado de forma interrogativa;

- O problema deve ser claro e preciso.;

- O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável

5 - FORMULAÇÃO DE HIPÓTESE:

- Idéia geral a ser comprovada no decorrer da pesquisa;

- São respostas provisórias, anteriores à pesquisa

- Deve ser fundada em conhecimento prévio;

- Deve ser verificável;

- É formulada por uma afirmação;

6 - ELABORAÇÃO DOS OBJETIVOS: Os objetivos representam o ponto de chegada em relação ao teste da hipótese e indicam o que é pretendido com o desenvolvimento da pesquisa.

- Objetivo geral: significa traçar as principais metas que nortearão a pesquisa;

- Objetivos específicos: cada objetivo específico atinge um ponto de vista do tema, um ângulo a ser pesquisado.

7 - DEFINIÇÃO DA METODOLOGIA: Representa a descrição formal dos métodos e técnicas a serem utilizados na pesquisa. Define os seguintes aspectos:

- O caminho a ser percorrido: métodos de abordagem e método de procedimentos;

- Os instrumentos de pesquisa a serem utilizados;

- Delimitação do universo da pesquisa;

- Delimitação e seleção da amostra

8 - REFERENCIAL TEÓRICO OU REVISÃO DA LITERATURA

- Exige capacidade de elaboração própria e espírito crítico;

- Contribui com informações inovadoras , acrescentando algo novo ao conhecimento já existente;

- Requer um levantamento bibliográfico cuidadoso, para analisar as contribuições já expressas acerca do assunto, capazes de esclarecer o fenômeno investigado.

9 - CRONOGRAMA:

- É a previsão do ritmo de desenvolvimento da pesquisa, esclarecendo acerca do tempo necessário para cada uma das fases

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A PSICOGÊNESE DA LEITURA E ESCRITA

Maria Inês de Brito Ataíde

Os estudos sobre a Psicogênse da leitura e escrita, desenvolvidos por Ferreiro e Teberosky, marcaram a história do processo de alfabetização. Utilizaram o marco conceitual da teoria psicogenética de Piaget, que trata das características dos processos cognitivos, para compreender os processos de construção do conhecimento no caso particular da linguagem escrita. Essas autoras declaram que é fundamental que o professor das séries iniciais do ensino fundamental tenham conhecimento da psicogênese para entender a forma pela qual a criança aprende a ler e escrever, para detectar e entender os “erros” construtivos característicos de cada fase da criança. A alfabetização, segundo Ferreiro (1995), têm sido tradicionalmente considerado como objeto de uma instrução sistemática e como algo que deva ser ensinado e cuja aprendizagem suporia o exercício de uma série de habilidades específicas, e ainda argumenta:

As atividades de interpretação e de produção de escrita começam antes da escolarização, como parte da atividade própria da idade pré-escolar; a aprendizagem se insere em um sistema de concepções previamente elaboradas e não pode ser reduzido a um conjunto de técnicas perceptivo-motoras. (FERREIRO, 1995, p. 42).

Já para Soares (2003), a alfabetização é um processo permanente, que se estenderia por toda a vida, que não se esgotaria na aprendizagem da leitura e da escrita. Entende que a escrita não é simplesmente um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade.

Considera-se que a criança percorre, no seu desenvolvimento, dentro de seu ambiente cultural, o mesmo caminho percorrido pela humanidade na organização de seu conhecimento: o ser humano partiu do pictórico e construiu uma simbologia (alfabeto), e, de maneira similar, a criança inicia a representação do mundo por meio de gestos ou do desenho e chega ao símbolo e às regras sistemáticas reconstruindo o código lingüístico utilizado na sua comunidade. Assim, na aprendizagem da leitura e da escrita, a criança tem como ponto de partida o sentido do mundo e dos objetos que a cerca, porque aprende pensando, estabelecendo relações sobre as características da linguagem presente ao seu redor.

Os estudos de Ferreiro deixaram transparente a idéia de que a criança reconstrói o código lingüístico e reflete sobre a escrita. Com esse pensamento desenvolveu várias hipóteses que servem de base para se construir o conhecimento alfabético.

Hipótese pré-silábica: a criança registra garatujas, desenhos sem configuração e, mais tarde desenhos com figuração. Mistura letras com números, não respeita a quantidade de letras, repete letras e não tem consciência da correspondência entre pensamento e palavra escrita.

Hipótese silábica: a criança já estabelece uma relação entre a escrita e a pronúncia das palavras, porém, utiliza uma letra para cada sílaba ou palavra ou, ainda, numa mesma palavra as letras podem se repetir.

Hipótese silábica-alfabética: a criança entra em conflito com a hipótese silábica. Elimina letras ou acrescenta, usa muito as vogais e às vezes não se consegue ler o que ela escreve. A combinação de letras serve para escrever uma porção de palavras. Nesse momento o valor sonoro torna-se imperioso.

Hipótese alfabética: a criança relaciona um grafema a cada fonema e abandona a hipótese silábica; compreende a lógica da base alfabética escrita; tem conhecimento do valor sonoro convencional de todas ou de grande parte das letras, juntando-as para que formem sílabas e palavras; faz distinção de letra, sílaba, palavra e frase. Porém, às vezes, na frase, ainda não divide gramaticalmente, e sim de acordo com o ritmo frasal.

A compreensão dessas hipóteses pelo professor é fundamental, pois exige uma mudança em sua prática pedagógica, uma vez que, ele sendo o mediador do processo precisa conviver com o “quando” e ”como” intervir. Por meio das sondagens é possível que a intervenção seja adequada e contínua. Cada criança tem necessidade de um tempo próprio para resolver conflito. Ao professor, cabe também respeitar os níveis reais de desenvolvimento do aluno para prosseguir com as atividades necessárias.

APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS

Participaram desta pesquisa duas crianças do sexo feminino. A primeira criança, de nome fictício, Isadora, tem 5 anos, freqüenta uma turma de Educação Infantil em uma escola pública de uma Região Administrativa do Distrito Federal. A segunda criança, cujo nome fictício é Larissa, é aluna do 2° ano do Ensino Fundamental da mesma escola de Isadora e tem 8 anos de idade.

PROCEDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO

Inicialmente a pesquisadora dirigiu-se à escola que se localiza na mesma Região Administrativa onde reside. É uma Escola-Classe da rede pública que contempla alunos da Educação Infantil até o 4º ano do Ensino Fundamental. Com a autorização da diretora e professora, as crianças foram convidadas a se retirarem de suas salas de aula para outra sala ao lado da direção. Após uma apresentação do trabalho a ser feito, houve uma conversa informal com as crianças para que elas se sentissem confortáveis e ficassem mais desinibidas. Foi entregue um papel branco com lápis, e, em seguida, foram ditadas, vagarosamente, as seguintes palavras do mesmo grupo semântico, (comidas/bebidas): uma monossílaba, outra dissílaba, outra trissílaba, outra polissílaba, bem como a frase com a palavra dissílaba: ( Ver anexo).

- Mel

- Suco

- Banana

- Refrigerante

- O suco está doce

As crianças escreveram de forma tranqüila e sem qualquer constrangimento. Ao final da atividade, a pesquisadora agradeceu a colaboração e entregou as crianças em suas salas. Elas também agradeceram e demonstraram alegria por participar de uma atividade extra-classe. Percebeu-se que se sentiram importantes por terem sido escolhidas, mesmo que esta escolha tenha sido feita aleatoriamente.

ANÁLISE DOS DADOS

Ao analisar a atividade desenvolvida por Isadora, a criança de 5 anos, observou-se que ela está a um passo da escrita alfabética, uma vez, que ela se encontra na hipótese silábica-alfabética, pois apresenta as seguintes características:

- Estabelece relação entre a escrita e a pronúncia da palavra;

- Conhecimento silábico com valor sonoro;

- Usa ainda algumas letras espelhadas;

- Utiliza menos letras para algumas palavras, como por exemplo, a palavra “refrigerante”;

- Já consegue dar espaço entre as palavras na frase citada.

Notou-se que apesar da pouca idade, (5 anos), esta criança está numa fase avançada, visto que em determinadas palavras ela não apresenta dificuldades, e, não misturou letras com números ou desenho, que é muito comum nesta idade.

Quanto ao trabalho desenvolvido por Larissa, a criança de 8 anos, apresenta as características de uma criança que se encontra na hipótese alfabética, avançando para o nível ortográfico. Já reconstrói o sistema lingüístico e compreende a sua organização. Ler e expressa graficamente o que ouve e fala, pois faz relação entre som e letra. Não apresenta dificuldades nos encontros de consoantes, como “fr” na palavra “refrigerante”. Notou-se também, que é uma criança com ótimo desempenho intelectual.

Com base nos estudos de Ferreiro, a ordem de progressão de condutas não impõe efetivamente um ritmo determinado na evolução das crianças. Algumas chegam a descobrir os princípios fundamentais de sistema antes de iniciarem a escola, ao passo que outras, estão longe de conseguir fazê-lo. Porém, cabe ao professor conhecer as concepções que a criança desenvolve a respeito da língua escrita, e tornar-se um mediador, propondo atividades e questionamentos que levem a criança a “desestruturar o pensamento”, isto é, a duvidar de suas idéias, colocar em conflito suas certezas sobre os símbolos e, comparar e refletir elaborando uma nova hipótese.

CONCLUSÃO

Este trabalho procurou mostrar o quanto é fundamental para a formação do psicopedagogo conhecer a psicogênse da leitura e escrita, uma vez que, o objeto de estudo deste profissional é a aprendizagem, principalmente as dificuldades apresentadas pela criança durante este processo. Dentro desta amostra, percebeu-se que é possível estabelecer interpretações significativas de produções da criança e fazê-la avançar quando necessário. O desenvolvimento da leitura e da escrita é um processo construtivo, e, que a informação sistemática propiciada pela escola, é apenas um dos fatores intervenientes, embora saibamos que é a escola quem tem a responsabilidade social de alfabetizar a criança.

A partir da análise dos dados, pode-se constatar que é muito difícil julgar a hipótese conceitual de uma criança, considerando unicamente os resultados de uma atividade sem levar em conta o processo de construção no decorrer de outras ações desenvolvidas. No entanto, é muito válido as investigações sobre a psicogênese, pois, permite tanto ao psicopedagogo quanto ao professor atuar como mediador no processo ensino–aprendizagem e fornecer pistas para o aprendente tornar-se alfabético.

A sondagem diagnóstica nesse processo é uma atividade essencial porque além de refletir sobre o pensamento da criança, capacita também o profissional a conhecer as hipóteses da criança envolvida no processo de alfabetização.

O processo de aprendizagem para a alfabetização deve ser organizado de modo que a leitura e a escrita sejam desenvolvidas por intermédio de uma linguagem real, natural, significativa e vivenciada. A criança precisa sentir a necessidade da linguagem e o seu uso no dia-a-dia. Assim, a assimilação do código lingüístico não será uma atividade de mãos e dedos, mas sim uma atividade de pensamento, uma forma complexa de construção de relações. Como declara Ferreiro, “a preocupação em desenvolver a linguagem escrita e não a escrita das letras deve ser uma constante”.

Conclui-se que é preciso acrescentar os fatores sociais, econômicos, culturais e políticos à natureza complexa do processo de alfabetização, com suas facetas psicológica, psicolingüística, sociolinguística e linguística. Uma teoria coerente da alfabetização que inclui a psicogênese só será possível se a articulação e integração das várias facetas do processo forem contextualizadas social e culturalmente e iluminadas por uma postura política que resgate seu verdadeiro significado.

REFERÊNCIAS

AZENHA, Maria da Graça.. Construtivismo - de Piaget a Emília Ferreiro. São Paulo: Editora Ática,1997.

COCCO, Maria Fernandes. Didática da alfabetização. São Paulo: FTD, 1996.

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1995

___________ & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003

sábado, 2 de outubro de 2010

MODELO DE RESENHA

RESENHA CRÍTICA

ALVES-MAZZOTTI, Alda J.; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo, Pioneira, 1999. 203 p.

1 CREDENCIAIS DOS AUTORES

Alda Judith Alves Mazzotti é bacharel licenciada em Pedagogia, bacharel em Psicologia, Psicóloga, mestre em Educação, doutora em Psicologia da Educação, professora titular de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e leciona a disciplina de Metodologia da Pesquisa em cursos de graduação e pós-graduação desde 1975. Outras obras:
ALVES-MAZZOTTI, Alda J., (1994). Do trabalho à rua: uma análise das representações sociais produzidas por meninos trabalhadores e meninos de rua. In Tecendo Saberes. Rio de Janeiro: Diadorim-UFRJ / CFCH.
_________ . (1996). Social representations of street children, resumo publicado nos Anais da Terceira Conferência Internacional sobre Representações Sociais, realizada em Aix-em- Provence.
Fernando Gewandsznajder é licenciado em Biologia, mestre em Educação, mestre em Filosofia e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Outras obras:
GEWANDSZNAJDER, Fernando. O que é o método científico. São Paulo: Pioneira,1989.
_________. A aprendizagem por mudança conceitual: uma crítica ao modelo PSHG. Doutoramento em Educação. Faculdade de Educação da UFRJ, 1995.

2 RESUMO DA OBRA

O livro é constituído de duas partes, cada uma delas sob a responsabilidade de um autor, traduzindo sua experiência e fundamentação sobre o método científico, em abordagens que se complementam.

Na primeira parte, GEWANDSZNAJDER discute, em quatro capítulos, o método nas ciências naturais, apresentando conceitos básicos como o da lei, teoria e teste controlado.
No capitulo inicial há uma visão geral do método nas ciências naturais e um alerta sobre a não concordância completa entre filósofos da ciência sobre as características do método científico. Muitos concordam que há um método para testar criticamente e selecionar as melhores hipóteses e teorias. Neste sentido diz-se que há um método cientifico, em que a observação, a coleta dos dados e as experiências são feitas conforme interesses, expectativas ou idéias preconcebidas, e não com neutralidade. São formuladas teorias que devem ser encaradas como explicações parciais, hipotéticas e provisórias da realidade.
O segundo capítulo
trata dos pressupostos filosóficos do método científico, destacando as características do positivismo lógico, segundo o qual o conhecimento factual ou empírico deve ser obtido a partir da observação, pelo método indutivo, bem como as críticas aos positivistas, cujo objetivo central era justificar ou legitimar o conhecimento científico, estabelecendo seus fundamentos lógicos e empíricos.
A partir das críticas à indução, o filósofo Karl Popper (1902- 1994) construiu o racionalismo crítico, sua visão do método cientifico e do conhecimento em geral, dizendo que ambos progridem através de conjecturas e refutações, sendo que a tentativa de refutação conta com o apoio da lógica dedutiva, que passa a ser um instrumento de crítica.
Apoiados em sua visão da história da ciência, Thomas Kuhn ( 1922- 1996) , Lakatos e Feyerabend, entre outros, criticam tanto Popper quanto os indutivistas, alegando que sempre é possível fazer alterações nas hipóteses e teorias auxiliares quando uma previsão não se realiza.

Kuhn destaca o conceito de paradigma como uma espécie de “teoria ampliada”, formada por leis, conceitos modelos, analogias, valores, regras para a avaliação de teorias e formulação de problemas, princípios metafísicos e “exemplares”. Tais paradigmas orientam a pesquisa cientifica; sua força seria tanta que determinaria até mesmo como um fenômeno é percebido pelos cientistas, o que explica por que as revoluções cientificas são raras: em vez de abandonar teorias refutadas, os cientistas se ocupam com a pesquisa cientifica orientada por um paradigma e baseada em um consenso entre especialistas.
Nos períodos chamados de “Revoluções Cientificas”, ocorre uma mudança de paradigma; novos fenômenos são descobertos, conhecimentos antigos são abandonados e há uma mudança radical na prática cientifica e na “visão de mundo” do cientista.
A partir do final dos anos sessenta, a Escola de Edimburgo, defende que a avaliação das teorias cientificas e seu próprio conteúdo são determinados por fatores sociais. Assume as principais teses da nova Filosofia da Ciência e conclui que o resultado da pesquisa seria menos uma descrição da natureza do que uma construção social.
O terceiro capítulo busca estimular uma reflexão crítica sobre a natureza dos procedimentos utilizados na pesquisa cientifica. Destaca que a percepção de um problema deflagra o raciocínio e a pesquisa, levando-nos a formular hipóteses e a realizar observações.
Importantes descobertas não foram totalmente casuais, nem os cientistas realizavam observações passivas, mas mobilizavam-se à procura de algo, criando hipóteses ousadas e pertinentes, o que aproxima a atividade cientifica de uma obra de arte.
Visando apreender o real, selecionamos aspectos da realidade e construímos um modelo do objeto a ser estudado. Mas isto não basta: há que se enunciar leis que descrevam seu comportamento. O conjunto formado pela reunião do modelo com as leis e as hipóteses constitui a teoria cientifica.

A partir do modelo, que representa uma imagem simplificada dos fatos, pode-se corrigir uma lei, enunciando outra mais geral, como ocorreu com Lavoisier, que estabeleceu os alicerces da química moderna.

No quarto capitulo, GEWANDSZNAJDER conclui a primeira parte da obra, comparando a ciência a outras formas de conhecimento, mostrando que tal distinção nem sempre é nítida e, que aquilo que atualmente não pertence à ciência, poderá pertencer no futuro.
Apresenta críticas a áreas cujos conhecimentos não são aceitos por toda a comunidade cientifica, como: paranormalidade, ufologia, criacionismo, homeopatia, astrologia.
Na maioria das vezes, o senso comum, formado pelo conjunto de crenças e opiniões, limita-se a tentar resolver problemas de ordem prática.

Assim, enquanto determinado conhecimento funcionar bem, dentro das finalidades para as quais foi criado, continuará sendo usado. Já o conhecimento cientifico procura sistematicamente criticar uma hipótese, mesmo que ela resolva satisfatoriamente os problemas para os quais foi concebida. Em ciência procura-se aplicar uma hipótese para resolver novos problemas, ampliando seu campo de ação para além dos limites de objetivos práticos e problemas cotidianos.

Na segunda parte do livro, Alves-Mazzotti discute a questão do método nas ciências sociais, com ênfase nas metodologias qualitativas, analisando seus fundamentos. Coloca que não há um modelo único para se construir conhecimentos confiáveis, e sim modelos adequados ou inadequados ao que se pretende investigar e que as ciências sociais vêm desenvolvendo modelos próprios de investigação, além de propor critérios para orientar o desenvolvimento da pesquisa, avaliar o rigor dos procedimentos e a confiabilidade das conclusões que não prescindem de evidências e argumentação sólida.

O capítulo cinco analisa as raízes da crise dos paradigmas, situando historicamente a discussão sobre a cientificidade das ciências sociais. Enfatiza fatos que contribuíram para estremecer a crença na ciência, como os questionamentos de Kuhn, nos anos sessenta, sobre a objetividade e a racionalidade da ciência e a retomada das críticas da Escola de Frankfurt, referentes aos aspectos ideológicos da atitude cientifica dominante.

Mostra que os argumentos de Kuhn, relativos à impossibilidade de avaliação objetiva de teorias cientificas, provocaram reações opostas, a saber: tomados às ultimas conseqüências, levaram ao relativismo, representado pelo “vale tudo” de Feyerabend e pelo construtivismo social da Sociologia do Conhecimento. De outro lado, tais argumentos foram criticados à exaustão, visando indicar seus exageros e afirmando a possibilidade de uma ciência que procure a objetividade, sem confundi-la com certeza.

E ainda, diversos cientistas sociais, mobilizados pelas críticas à ciência tradicional feitas pela Escola de Frankfurt, partindo de outra perspectiva, procuravam caminhos para a efetivação de uma ciência mais compromissada com a transformação social.

Em tal contexto, adquirem destaque nas ciências sociais, os modelos alternativos ao positivismo, como a teoria crítica, expondo o conflito entre o positivismo e a visão dialética. Esgotado o paradigma positivista, adquire destaque, na década de setenta, o paradigma qualitativo, abrindo espaço para a invenção e o estudo de problemas que não caberiam nos rígidos limites do paradigma anterior.

A discussão contemporânea propõe compromisso com princípios básicos do método cientifico, como clareza, consenso, linguagem formalizada, capacidade de previsão, conjunto de conhecimentos que sirvam de guia para a ação(modelos).
A análise das posições indica flexibilização dos critérios de cientificidade, preocupação com clareza do discurso cientifico permitindo crítica fundamentada, explicação e não apenas descrição dos fenômenos.

O capítulo seis apresenta aspectos relativos ao debate sobre o paradigma qualitativo na década de oitenta.

Inicialmente, caracteriza a abordagem qualitativa por oposição ao positivismo, visto muitas vezes de maneira ingênua.

Wolcott denuncia a confusão na área, Lincoln e Guba denominam o novo paradigma de construtivista e Patton capta o que há de mais geral entre as modalidades incluídas nessa abordagem, indicando que seguem a tradição compreensiva ou interpretativa.

Na Conferência dos Paradigmas Alternativos, em 1989, são apresentados como sucessores do positivismo:

* Construtivismo Social, influenciado pelo relativismo e pela fenomenologia, enfatizando a intencionalidade dos atos humanos e privilegiando as percepções. Considera que a adoção de teorias a priori na pesquisa turva a visão do observado.

* Pós – positivismo - Defende a adoção do método científico nas ciências sociais, preferindo modelos experimentais com teste de hipóteses, tendo como objetivo último a formulação de teorias explicativas de relações causais..

* Teoria Crítica, onde o termo assume, pelo menos, dois sentidos distintos: (1)Análise rigorosa da argumentação e do método; (2)Ênfase na análise das condições de regulação social, desigualdade e poder.

Os teóricos – críticos enfatizam o papel da ciência na transformação da sociedade, embora a forma de envolvimento do cientista nesse processo de transformação seja objeto de debate. Ao contrário dos construtivistas e dos pós-positivistas, questionam a dicotomia objetivo/subjetivo, implicando oposições, declarando que esta é uma simplificação que, em vez de esclarecer confunde. Para eles subjetividade não é algo a ser expurgado da pesquisa, mas que precisa ser admitido e compreendido como parte da construção dos significados inerente às relações sociais que se estabelecem no campo pesquisado. Tem que ser entendida como sendo determinada por múltiplas relações de poder e interesses de classe, raça gênero, idade e orientação sexual. Conceito que deve ser discutido em relação à consciência e às relações de poder que envolvem tanto o pesquisador como os pesquisados.
Como organizador da citada conferência, Guba retratou as ambigüidades, confusões e discordâncias existentes, visando estimular a continuação das discussões. A diferença entre as três posições reside na ênfase atribuída e, especialmente, nas conseqüências derivadas dessas questões:o papel da teoria, dos valores e a subdeterminação da teoria.
Na prática, observa-se com freqüência a coexistência de características atribuídas a diferentes paradigmas.

No capítulo sete estuda-se o planejamento de pesquisas qualitativas, discutem-se alternativas e sugestões, acompanhadas de exemplos que auxiliam o planejamento e desenvolvimento de pesquisas.

Ao contrário das quantitativas, as investigações qualitativas não admitem regras precisas, aplicáveis a uma infinidade de casos, por sua diversidade e flexibilidade. Diferem também quanto aos aspectos que podem ser definidos no projeto. Enquanto os pós-positivistas trabalham com projetos bem detalhados, os construtivistas sociais defendem um mínimo de estruturação prévia, definindo os aspectos referentes à pesquisa, no decorrer do processo de investigação.

Para a autora, um projeto de pesquisa consiste basicamente em um plano para uma investigação sistemática que busca uma compreensão mais elaborada de determinado problema.
Seja qual for o paradigma em que está operando, o projeto deve indicar: o que se pretende investigar; como se planejou conduzir a investigação; porque o estudo é relevante.
Encerrando a obra, o capítulo oito trata da revisão da bibliografia, destacando dois aspectos pertinentes à pesquisa: (1) análise de pesquisas anteriores sobre o mesmo tema e ou sobre temas correlatos; (2) discussão do referencial teórico.

Sendo a produção do conhecimento uma construção coletiva da comunidade científica, o pesquisador formulará um problema, situando-se e analisando criticamente o estado atual do conhecimento em sua área de interesse, comparando e criticando abordagens teórico-metodológicas e avaliando o peso e confiabilidade de resultados de pesquisas, identificando pontos de consensos, controvérsias, regiões de sombra e lacunas que merecem ser esclarecidas. Posicionar-se-á quanto ao referencial teórico a ser utilizado e seguirá o plano estabelecido.

3 CONCLUSÃO DA RESENHISTA

De um modo geral, os autores apóiam-se em diversos estudiosos para emitir suas conclusões. Numa das poucas oportunidades em que declara suas próprias idéias, GEWANDSZNAJDER nos lembra que a decisão de adotar uma postura crítica, de procurar a verdade e valorizar a objetividade é uma decisão livre. Alerta-nos que determinadas escolhas geram conseqüências que poderão ser consideradas indesejáveis pelo sujeito ou pela comunidade. Supondo, num exemplo extremo, que se decida “afrouxar” os padrões da crítica a ponto de abandonar o uso de argumentos e a possibilidade de corrigir-se os próprios erros com a experiência, não mais distinguiríamos uma opinião racional, conseqüência de ponderações, críticas e discussões que consideram diferentes posições, de um simples preconceito, que se utiliza de conceitos falsos para julgar pessoas pelo grupo a que pertencem, levando a discriminações.
Também aqui sua conclusão apóia-se em um autor: “Finalmente como diz Popper, se admitimos não ser possível chegar a um consenso através de argumentos, só resta o convencimento pela autoridade. Portanto, a falta de discussão crítica seria substituída por decisões autoritárias, soluções arbitrárias e dogmáticas – e até violentas – para se decidir uma disputa” (pág 64).

Com este discurso, incentiva-nos a reagir à acomodação e falsa neutralidade, mostrando nossa responsabilidade em tudo que fazemos e criamos, pois a decisão final será sempre um ato de valor e pode ser esclarecida pelo pensamento, através da análise das conseqüências posições de determinada decisão.

Respaldando, ainda, suas opiniões em autores de peso, destaca que a história da ciência mostra que nas revoluções científicas não há mudanças radicais no significado de todos os conceitos, sendo utilizada uma linguagem capaz de ser compreendida por ambos os lados.

Enfatiza que a maioria dos problemas estudados pelos cientistas surge a partir de um conjunto de teorias científicas que funciona como um conhecimento de base. E é este conhecimento de base que procura nos fornecer, deixando claro que a formulação e resolução de problemas só podem ser feitas por quem tem um bom conhecimento das teorias científicas de sua área. Completa dizendo que um bom cientista não se limita a resolver problemas, mas também formula questões originais e descobre problemas onde outros viam apenas fatos banais, pois “os ventos só ajudam aos navegadores que têm um objetivo definido”.(pág. 66).

Alves – Mazzotti, esclarece que os teórico-críticos enfatizam o papel da ciência na transformação da sociedade, apesar da forma de envolvimento do cientista nesse processo de transformação como objeto de debate. Complementa com a posição de diferentes autores sobre cientistas sociais, parceiros na formação de agendas sociais através de sua prática científica, sendo esse envolvimento e a militância política questões distintas. Enfatiza que a diferença básica entre a teoria crítica e as demais abordagens qualitativas está na motivação política dos pesquisadores e nas questões sobre desigualdade e dominação que, em conseqüência, permeiam seus trabalhos.
Coerente com essas preocupações, a abordagem crítica é essencialmente relacional: busca investigar o que ocorre nos grupos e instituições relacionando as ações humanas com a cultura e as estruturas sociais e políticas, procurando entender de que forma as redes de poder são produzidas, mediadas e transformadas. Parte do pressuposto de que nenhum processo social pode ser compreendido de forma isolada, como instância neutra, acima dos conflitos ideológicos da sociedade. Ao contrário, estão sempre profundamente ligados, vinculados, às desigualdades culturais, econômicas e políticas que dominam nossa sociedade.

Os autores concluem que coexistem atualmente diferentes linhas filosóficas acerca da natureza do método cientifico, o que também é válido em relação aos critérios para avaliação das teorias cientificas. Concordam, também, que a pesquisa nas ciências sociais se caracteriza por uma multiplicidade de abordagens, com pressupostos, metodologias e estilos diversos.

Finalmente, deixam claro que o uso do método científico não pode ser considerado de maneira independente dos conceitos ou das bases teóricas, implícita ou explicitamente, envolvidos na pesquisa.

4 CRÍTICA DA RESENHISTA

A obra fornece subsídios à nossa pesquisa científica, à medida que trata dos principais autores/protagonistas da discussão/construção do método cientifico na história mais recente, reportando-se a esclarecimentos mais distantes sempre que necessário.
Com sólidos conhecimentos acerca do desenrolar histórico, os autores empenham-se em apresentar clara e detalhadamente as circunstâncias e características da pesquisa cientifica, levando-nos a compreender as idéias básicas das várias linhas filosóficas contemporâneas, bem como a descobrir uma nova maneira de ver o que já havia sido visto, estudado.
É uma leitura que exige conhecimentos prévios para ser entendida, além de diversas releituras e pesquisas quanto a conceitos, autores e contextos apresentados, uma vez que as conclusões emergem a partir de esclarecimentos e posições de diversos estudiosos da ciência e suas aplicações e posturas quanto ao método científico.

Com estilo claro o objetivo, os autores dão esclarecimentos sobre o método cientifico nas ciências naturais e sociais, exemplificando, impulsionando reflexão crítica e discussão teórica sobre fundamentos filosóficos. Com isso auxiliam sobremaneira a elaboração do nosso plano de pesquisa.

Os exemplos citados amplamente nos auxiliam na compreensão da atividade científica e nos possibilitam analisar e confrontar várias posições, a fim de chegarmos à nossa própria fundamentação teórica, decidindo-nos por uma linha de pesquisa. Mostram-nos a imensa possibilidade de trabalhos que existe no campo da ciência, além de nos encaminhar para exposições mais detalhadas a respeito de determinados tópicos abordados, relacionando autores e bibliografia específicas.

Finalmente, com o estudo dessa obra, podemos amadurecer mais, inclusive para aceitar e até solicitar crítica rigorosa, que em muito pode enriquecer nosso trabalho.

5 INDICAÇOES DA RESENHISTA

A obra tem por objetivo discutir alternativas e oferecer sugestões para estudantes universitários e pesquisadores, a fim de que possam realizar, planejar e desenvolver as próprias pesquisas, na graduação e pós-graduação, utilizando-se do rigor necessário à produção de conhecimentos confiáveis. É de grande auxilio, principalmente, àqueles que desenvolvem trabalhos acadêmicos no campo da ciência social.

Não se trata de um simples manual, com passos a serem seguidos, mas um livro que apresenta os fundamentos necessários à compreensão da natureza do método científico, nas ciências naturais e sociais, bem como diretrizes operacionais que contribuem para o desenvolvimento da atitude crítica necessária ao progresso do conhecimento.

Joana Maria Rodrigues Di Santo é Psicopedagoga experiente, com atuação significativa em Psicopedagogia Institucional, Coordenadora de Ensino Médio e Fundamental, Supervisora aposentada do Município de São Paulo, Mestre em Educação, profere palestras e assessora diversas escolas.


sábado, 18 de setembro de 2010

COMO FAZER RESENHA

MTPE – Métodos e Técnicas de Pesquisa em Educação

MARIA INÊS DE BRITO ATAIDE (Site: onlytutorials.com.br)

RESENHA ACADÊMICA

Na resenha acadêmica crítica, os oito passos a seguir formam um guia ideal para uma produção completa:

1 -Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;

2 -Identifique o autor: Cuidado! Aqui você fala quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor da resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do autor.
3 -Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;
4 -Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;
5 - Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;
6 - Analise de forma crítica: Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião. Argumente baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até mesmo utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.
7 -Recomende a obra: Você já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de analisar para quem o texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
8 -Assine e identifique-se: Agora sim. No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de Letras da Universidade de Caxias do Sul (UCS)”
Na resenha acadêmica descritiva, os passos são exatamente os mesmos. Como o próprio nome já diz, a resenha descritiva apenas descreve, não expõe a opinião do resenhista.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

SEJA ORGANIZADO

MAUS HÁBITOS
Autor: Paulo Ricardo Mubarack

Um profissional é o somatório de sua genética com o que aprendeu na família, na escola, na comunidade e nas empresas onde trabalhou. Tenho conhecido muitas pessoas com genética boa, mas com maus hábitos, o que acaba por prejudicá-las em suas carreiras. São pequenas mas desagradáveis atitudes que atrapalham muita gente e que acabam por desqualificar bons funcionários. Não basta ter conhecimentos técnicos ou gerenciais, é necessário APRENDER A TRABALHAR. Raramente se ensina para alguém como trabalhar e isto independe da atividade de cada um. Vale para qualquer profissão. Vejamos alguns hábitos muito ruins e freqüentes em nossos profissionais:

1. NÃO ANOTAR: em alguns cursos, interrompo a aula e digo para minha platéia, que não toma nota de nada: "Vocês não estão assistindo a um show. Isto é um treinamento e quanto mais vocês anotarem, mais vocês aprenderão. Não adianta ficar de braços cruzados apenas me ouvindo".

2. NÃO UTILIZAR AGENDA: fico muito desapontado quando peço algo para uma pessoa ou quando marco uma reunião e ela não toma nota na agenda. Este mau hábito demonstra pouco caso com o compromisso assumido e aumenta a probabilidade do esquecimento.

3. NÃO OUVIR: hábito deplorável, muito comum em diretores e presidentes. Quando você fala mais do que ouve, você pára de aprender e fica obsoleto. Ouvir o que outros falam é uma atitude que demonstra inteligência e respeito.

4. NÃO DAR RETORNO: se um profissional não pode atender ao telefone ou responder imediatamente um e-mail, deve fazê-lo o mais rápido possível, preferencialmente no mesmo dia. Conheço pessoas que jamais dão retorno. Você tem que ligar uma segunda vez.

5. NÃO SER PONTUAL: péssimo hábito, identificador de absoluta falta de respeito. Há pessoas que SEMPRE se atrasam. Observe a cara ridícula desta gente quando entra em uma reunião ou em um curso e atrapalha a todos!

6. NÃO TER O MÍNIMO DE ETIQUETA - manifestar PRECONCEITOS, RACISMOS, atender o celular no meio de um curso, manter conversas paralelas em uma reunião.

7. NÃO LER NEM ESTUDAR: profissionais que não sabem pesquisar nem ler nem estudar não são profissionais. São amadores que devem ser imediatamente descartados. Uma empresa não progride com gente ignorante trabalhando em sua equipe.

8. SER DEFINITIVO DEMAIS: é a característica do burro por convicção. Ele tem opiniões formadas sobre todos os assuntos e jamais se permite análise crítica. Como "sabe tudo", não aprende nada e permanece mergulhado em uma ignorância profunda.

9. NÃO PERDER A PIADA: são aqueles caras engraçados que fazem todo mundo rir. Um circo de segunda classe talvez fosse o lugar mais adequado para esta gente. Ter bom humor é fundamental, mas estar sempre rindo e contando piadas (especialmente se for para debochar dos colegas ou da própria empresa) é característica de alguma patologia que mereceria ser investigada por um psiquiatra.

10. NÃO SE PREPARAR PARA UMA REUNIÃO: são profissionais que vão para reuniões e para cursos "de mãos abanando", sem qualquer tipo de preparo. Atitude deplorável, que prejudica a produtividade das atividades e atrapalha o grupo.

11. PROCRASTINAR: o popular "empurrar com a barriga". São os preguiçosos que sempre deixam algo para amanhã. Não fazem nada rápido e não tem senso de urgência.

12. SER ADEPTO DE FOFOCAS: expor a própria vida privada e a dos outros. A fofoca, embora possa parecer inofensiva, tem efeitos muito nocivos na produtividade e no ambiente de trabalho.

13. NÃO TER A VIDA FINANCEIRA ORGANIZADA: aquela velha máxima de deixar os problemas pessoais "atrás da porta" quando se entra no trabalho não funciona. Quem tem a vida financeira e pessoal desorganizada é um profissional de segunda linha, que frequentemente perde o foco e a capacidade de concentração no trabalho.

14. NÃO CUIDAR DA SAÚDE; noitadas, excesso de peso e falta de preparo físico não prejudicam apenas atletas, prejudicam qualquer profissional. Em um corpo cansado ou doente não existe lugar para o aprendizado e para a produção de boas atividades. Pessoas que fumam têm este problema. Simples assim!

15. NÃO CUMPRIR COMPROMISSOS: se você precisa entregar um trabalho em uma data definida, você deve entregar, nada menos do que isto. Não cumprir prazos é fatal para um profissional. Não tem tempo? Não gosto e não quero ouvir esta desculpa "furada". Se não há tempo durante o horário normal, faça de madrugada, mas faça!

Ensinar a trabalhar! Talvez seja a peça que está faltando no currículo das escolas e dos MBAs, no treinamento das empresas e nas conversas entre pais e filhos.

Paulo Ricardo Mubarack (consultor de gestão, qualidade, administração de pessoas, rh, iso9001 e autor do livro empresas nuas)






INTERDISCIPLINARIDADE

INTER-TRANSDISCIPLINARIDADE E TRANSVERSALIDADE

Instituto Paulo Freire/Programa de Educação Continuada

Os temas transversais dos novos parâmetros curriculares incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual. Eles expressam conceitos e valores fundamentais à democracia e à cidadania e correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade brasileira de hoje, presentes sob várias formas na vida cotidiana. São amplos o bastante para traduzir preocupações de todo País, são questões em debate na sociedade através dos quais, o dissenso, o confronto de opiniões se coloca.

Por meio da Ética, o aluno deverá entender o conceito de justiça baseado na equidade e sensibilizar-se pela necessidade de construção de uma sociedade justa, adotar atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças sociais, discutindo a moral vigente e tentando compreender os valores presentes na sociedade atual e em que medida eles devem ou podem ser mudados. Através do tema Meio-ambiente o aluno deverá compreender as noções básicas sobre o tema, perceber relações que condicionam a vida para posicionar-se de forma crítica diante do mundo, dominar métodos de manejo e conservação ambiental. A Saúde é um direito de todos. Por esse tema o aluno compreenderá que saúde é produzida nas relações com o meio físico e social, identificando fatores de risco aos indivíduos necessitando adotar hábitos de auto-cuidado. A Pluralidade cultural tratará da diversidade do patrimônio cultural brasileiro, reconhecendo a diversidade como um direito dos povos e dos indivíduos e repudiando toda forma de discriminação por raça, classe, crença religiosa e sexo. A orientação sexual, numa perspectiva social, deverá ensinar o aluno a respeitar a diversidade de comportamento relativo à sexualidade, desde que seja garantida a integridade e a dignidade do ser humano, conhecer seu corpo e expressar seus sentimentos, respeitando os seus afetos e do outro.Educação & trabalho.

Além desses temas, podem ser desenvolvidos os temas locais, que visam a tratar de conhecimentos vinculados à realidade local. Eles devem ser recolhidos a partir do interesse específico de determinada realidade, podendo ser definidos no âmbito do Estado, Cidade ou Escola. Uma vez feito esse reconhecimento, deve-se dar o mesmo tratamento que outros temas transversais.

3.1 - Como trabalhar com os temas transversais?

A transversalidade, bem como a transdisciplinaridade, é um princípio teórico do qual decorrem várias conseqüências práticas, tanto nas metodologias de ensino quanto na proposta curricular e pedagógica. A transversalidade aparece hoje como um princípio inovador nos sistemas de ensino de vários países. Contudo, a idéia não é tão nova. Ela remonta aos ideais pedagógicos do início do século, quando se falava em ensino global e do qual trataram famosos educadores, entre eles, os franceses Ovídio Decroly (1871-1932) e Celestin Freinet (1896-1966), os norte-americanos John Dewey (1852-1952) e William Kilpatrick (1871-1965) e os soviéticos Pier Blonsky (1884-1941) e Nadja Krupskaia (1869-1939).

O Método Decroly dos "centros de interesse" partia da idéia da globalização do ensino para romper com a rigidez dos programas escolares. Para ele, existem 6 centros de interesse que poderiam substituir os planos de estudo construídos com base em disciplinas: a) a criança e a família; b) a criança e a escola; c) a criança e o mundo animal; d) a criança e o mundo vegetal; e) a criança e o mundo geográfico; f) a criança e o universo. Os centros de interesse são uma espécie de idéias-força em torno das quais convergem as necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais do aluno. Freinet e Paulo Freire, nesse sentido, partindo da leitura do mundo, do respeito à cultura primeira do aluno, buscaram desenvolver o aprendizado através da livre discussão dos temas geradores do universo vocabular do aluno.

O Método dos Projetos de Kilpatrick parte de problemas reais, do dia-a-dia do aluno. Todas as atividades escolares realizam-se através de projetos, sem necessidade de uma organização especial. Originalmente ele chamou de projeto à "tarefa de casa" ("home project") de caráter manual que a criança executava fora da escola. O projeto como método didático era uma atividade intencionada que consistia em os próprios alunos fazerem algo num ambiente natural, por exemplo, construindo uma casinha poderiam aprender geometria, desenho, cálculo, história natural etc. Kilpatrick classificou os projetos em quatro grupos: a) de produção, no qual se produzia algo; b) de consumo, no qual se aprendia a utilizar algo já produzido; c) para resolver um problema e d) para aperfeiçoar uma técnica. Quatro características concorriam para um bom projeto didático: a) uma atividade motivada por meio de uma conseqüente intenção; b) um plano de trabalho, de preferência manual; c) a que implica uma diversidade globalizada de ensino; d) num ambiente natural.

O princípio da interdisciplinaridade permitiu um grande avanço na idéia de integração curricular. Mas ainda a idéia central era trabalhar com disciplinas. Na interdisciplinaridade os interesses próprios de cada disciplina são preservados. O princípio da transversalidade e de transdisciplinaridade busca superar o conceito de disciplina. Aqui, busca-se uma intercomunicação entre as disciplinas, tratando efetivamente de um tema/objetivo comum (transversal). Assim, não tem sentido trabalhar os temas transversais através de uma nova disciplina, mas através de projetos que integrem as diversas disciplinas. Uma primeira experiência, ainda numa visão interdisciplinar, foi realizada durante a gestão de Paulo Freire na Secretaria de Educação de São Paulo e está narrada no livro Ousadia no diálogo: interdisciplinaridade na escola pública, organizada pela professora Nídia Nacib Pontuschka. O projeto foi implantado com a ajuda de professores da Universidade de São Paulo. Buscou-se capacitar o professor para trabalhar nessa nova metodologia de ensino que consiste basicamente no trabalho coletivo e no princípio de que as várias ciências devem contribuir para o estudo de determinados temas que orientam todo o trabalho escolar. Foi respeitada a especificidade de cada área do conhecimento, mas, para superar a fragmentação dos saberes procurou-se estabelecer e compreender a relação entre uma "totalização em construção" a ser perseguida e novas relações de colaboração integrada de diferentes especialistas que trazem a sua contribuição para a análise de determinado tema gerador sugerido pelo estudo da realidade que antecede a construção curricular.

Como trabalhar com projetos?

Projeto vem de projetar, projetar-se, atirar-se para a frente. Na prática, elaborar um projeto é o mesmo que elaborar um plano para realizar determinada idéia. Portanto, um projeto supõe a realização de algo que não existe, um futuro possível. Tem a ver com a realidade em curso e com a utopia possível, realizável, concreta. Dificilmente os integrantes de uma escola escolherão trabalhar num projeto da escola se ele não foi a extensão de seu próprio projeto de vida. Trabalhar com projetos na escola exige um envolvimento muito grande de todos os parceiros e supõe algo mais do que apenas assistir ou ministrar aulas.

Além do conteúdo propriamente dito de cada projeto, conta muito o processo de elaboração, execução e avaliação de cada projeto. O processo também produz aprendizagens novas. "A própria organização das atividades didáticas deve ser encarada a partir da perspectiva do trabalho com projetos. De fato, respostas a perguntas tão freqüentemente formuladas pelos alunos, em diferentes níveis, como "Para que estudar Matemática? E Português? E História? E Química?" não podem mais ter como referência o aumento do conhecimento ou da cultura, ou ainda, mais pragmaticamente, a aprovação nos exames. A justificativa dos conteúdos disciplinares a serem estudados deve fundar-se em elementos mais significativos para os estudantes, e nada é mais adequado para isso do que a referência aos projetos de vida de cada um deles, integrados simbioticamente em sua realização aos projetos pedagógicos das unidades escolares" (MACHADO,1997:75).

Como afirmou recentemente no IPF (Instituto Paulo Freire) o professor da UNICAMP, Eduardo Chaves, o tema transversal fundante é a Ética. Não podemos apresentar esse tema como um vendedor de roupas que diz: tenho aqui camisas, calças, blusas e também roupas. A diversidade cultural, o meio ambiente, a sexualidade, o consumo etc são temas atravessados pela Ética. Ela não é um tema a mais. Ela é elemento constitutivo de todos os temas.

Como trabalhar com esse temas?

Apresentamos acima algumas alternativas. Estudos mais recentes estão apontando o método dos projetos como uma alternativa viável. Entre esses estudos destacamos o de Fernando Hernández (1998) que trata especificamente da "organização do currículo por projetos de trabalho". A proposta do autor está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional. "Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de organizar a atividade de ensino e aprendizagem, que implica considerar que tais conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de algumas referências disciplinares preestabelecidas ou de uma homogeneização dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimentos próprios (...) Globalização e significatividade são, pois, dois aspectos essenciais que se plasmam nos Projetos. É necessário destacar o fato de que as diferentes fases e atividades que se devam desenvolver num Projeto ajudam os alunos a serem conscientes de seu processo de aprendizagem e exige do professorado responder aos desafios que estabelece uma estruturação muito mais aberta e flexível dos conteúdos escolares". (HERNÁNDEZ, 1998:61-64).

3.2 – O conceito de interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade, como questão gnosiológica, surgiu no final do século passado, pela necessidade de dar uma resposta à fragmentação causada por uma epistemologia de cunho positivista. As ciências haviam-se dividido em muitas disciplinas e a interdisciplinaridade restabelecia, pelo menos, um diálogo entre elas, embora não resgatasse ainda a unidade e a totalidade do saber.

Desde então, o conceito de interdisciplinaridade vem se desenvolvendo também nas ciências da educação. Elas aparecem com clareza em 1912 com a fundação do Instituto Jean-Jacques Rousseau, em Genebra, por Edward Claparède, mestre de Piaget. Toda uma discussão foi travada sobre a relação entre as ciências mães e as ciências aplicadas à educação: por exemplo, a sociologia (da educação), a psicologia (da educação) etc. e noções correlatas foram surgindo, como intradisciplinaridade, pluridisciplinaridade e transdisciplinaridade.

A intradisciplinaridade‚ entendida, nas ciências da educação, como a relação interna entre a disciplina "mãe" e a disciplina "aplicada". O termo interdisciplinaridade, na educação, já não oferece problema, pois, ao tratar do mesmo objeto de ciência, uma ciência da educação "complementa" outra. Diga-se o mesmo quanto à pluridisciplinaridade. É a natureza do próprio fato/ato educativo, isto é, a sua complexidade, que exige uma explicação e uma compreensão pluridisciplinar. A interdisciplinaridade é uma forma de pensar. Piaget sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade, etapa que não ficaria na interação e reciprocidade entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas.

Após a 2ª Guerra Mundial, a interdisciplinaridade aparece como preocupação humanista além da preocupação com as ciências. Desde então, parece que todas as correntes de pensamento se ocuparam com a questão da interdisciplinaridade:

1º - a teologia fenomenológica encontrou nesse conceito uma chave para o diálogo entre igreja e mundo;

2º - o existencialismo, buscando dar às ciências uma "cara humana";

3º - o neo-positivismo que buscava no interior do positivismo a solução para o problema da unidade das ciências;

4º - o marxismo que buscava uma via diferente para a restauração da unidade entre todo e parte.

O projeto de interdisciplinaridade nas ciências passou de uma fase filosófica (humanista) de definição e explicitação terminológica, na década de 70, para uma segunda fase (mais científica) de discussão do seu lugar nas ciências humanas e na educação, na década de 80. Atualmente, no plano teórico, busca-se fundar a interdisciplinaridade na ética e na antropologia, ao mesmo tempo que, no plano prático, surgem projetos que reivindicam uma visão interdisciplinar.

A interdisciplinaridade visa a garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas. Para isso, integrar conteúdos não seria suficiente. Seria preciso uma atitude e postura interdisciplinar. Atitude de busca, envolvimento, compromisso, reciprocidade diante do conhecimento.

A interdisciplinaridade se desenvolveu em diversos campos e, de certo modo, contraditoriamente, até ela se especializou, caindo na armadilha das ciências que ela queria evitar. Na educação ela teve um desenvolvimento particular. Nos projetos educacionais a interdisciplinaridade se baseia em alguns princípios, entre eles:

1o - Na noção de tempo: o aluno não tem tempo certo para aprender. Não existe data marcada para aprender. Ele aprende a toda hora e não apenas na sala de aula.

2º - Na crença de que é o indivíduo que aprende. Então, é preciso ensinar a aprender, a estudar etc. ao indivíduo e não a um coletivo amorfo. Portanto, uma relação direta e pessoal com a aquisição do saber.

3º - Embora apreendido individualmente, o conhecimento é uma totalidade. O todo é formado pelas partes, mas não é apenas a soma das partes. É maior que as partes.

4º - A criança, o jovem e o adulto aprendem quando têm um projeto de vida e o conteúdo do ensino é significativo para eles no interior desse projeto. Aprendemos quando nos envolvemos com emoção e razão no processo de reprodução e criação do conhecimento. A biografia do aluno é, portanto, a base do seu projeto de vida e de aquisição do conhecimento e de atitudes novas.

A metodologia do trabalho interdisciplinar implica em:

1º - integração de conteúdos;

2º - passar de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária do conhecimento;

3º - superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa, a partir da contribuição das diversas ciências;

4º - ensino-aprendizagem centrado numa visão de que aprendemos ao longo de toda a vida.

O conceito chegou ao final desse século com a mesma conotação positiva do início do século, isto é, como forma (método) de buscar, nas ciências, um conhecimento integral e totalizante do mundo frente à fragmentação do saber, e na educação, como forma cooperativa de trabalho para substituir procedimentos individualistas.

A ação pedagógica através da interdisciplinaridade aponta para a construção de uma escola participativa e decisiva na formação do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentação da vivência de uma realidade global, que se insere nas experiências cotidianas do aluno, do professor e do povo e que, na teoria positivista era compartimentada e fragmentada. Articular saber, conhecimento, vivência, escola comunidade, meio-ambiente etc. tornou-se, nos últimos anos, o objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prática, por um trabalho coletivo e solidário na organização da escola. Um projeto interdisciplinar de educação deverá ser marcado por uma visão geral da educação, num sentido progressista e libertador.

A interdisciplinaridade deve ser entendida como conceito correlato ao de autonomia intelectual e moral. Nesse sentido a interdisciplinaridade serve-se mais do construtivismo do que serve a ele. O construtivismo é uma teoria da aprendizagem que entende o conhecimento como fruto da interação entre o sujeito e o meio. Nessa teoria o papel do sujeito é primordial na construção do conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver com a interdisciplinaridade.

A relação entre autonomia intelectual e interdisciplinaridade é imediata. Na teoria do conhecimento de Piaget o sujeito não é alguém que espera que o conhecimento seja transmitido a ele por um ato de benevolência. É o sujeito que aprende através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo. É ele, enquanto sujeito autônomo, que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo, como costumava nos dizer, em Genebra, nosso mestre Piaget.